O mundo também arde nos ilhéus

porPedro Amaral

04 de novembro 2023 - 22:15
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Os Açores fazem parte deste planeta, não só vão sentir os efeitos do aquecimento global, como já os sentem.

Num destes dias estava estacionado no sofá e a testemunhar a diversidade de conteúdos dos canais de televisão. Num daqueles acessos de saudade, coloquei na RTP Açores e fiquei a ver as Notícias do Atlântico. Lá vi uma reportagem sobre a Conferência Internacional sobre Alterações Climáticas que não deixa ninguém indiferente: os Açores fazem parte deste planeta, não só vão sentir os efeitos do aquecimento global, como já os sentem.

Apesar de já ter lido uma exposição rigorosa do que foi mencionado na Conferência, não me parece de todo desadequado trazer para aqui o assunto e explorá-lo um pouco.

Desde logo, ecoar as conclusões apresentadas na Conferência:

Fazendo a média das temperaturas mínimas de 1971 e 2000 e daquelas entre 1991 e 2020, apercebemo-nos de um aumento de um grau centígrado. De notar que a Conferência de Paris (2015) estabelece esforços para o aumento ficar por 1,5graus, sendo que já em 1997, em Quioto, se pretendia um aumento máximo de dois graus.

Recorde-se que o aumento da temperatura leva ao derretimento das calotas polares, subindo o nível das águas do mar, potencia fenómenos como o El Niño, só para dar alguns exemplos à escala global. O aumento de um grau é capaz de branquear corais, aumentar a reprodução de gafanhotos e diminuir as áreas férteis para café, entre outros exemplos concretos.

O número de dias com temperatura máxima acima dos 25 graus centígrados aumentou, no período já mencionado, de 48 para 61, um aumento de 27%. Significa isto um aumento de secas, havendo também uma diminuição da precipitação – as ondas de calor são particularmente problemáticas para a saúde de grupos de risco, como idosos. Também ocorre um aumento de dias de chuva intensa. Ou seja, há um aumento de fenómenos extremos.

Justamente, nos períodos de 30 anos considerados, assistiu-se a um aumento de ciclones tropicais de 20 para 35. Além do aumento deste total, a intensidade também saiu reforçada: entre 1971 e 2000 houve 2 ciclones de intensidade igual ou superior a 3, enquanto entre 1991 e 2020 houve 11 – um aumento exponencial.

Finda esta descrição, aproveito para mencionar a monitorização de gases com efeito de estufa na Terceira da responsabilidade do IPMA. Ao olharmos para os dados notamos a clara tendência de aumento do dióxido de carbono e metano. Muito pouco rigorosamente, olhando para o gráfico do dióxido de carbono, podemos afirmar que a cada ano há um aumento de 1,82 ppm, sendo que no globo esse aumento é de 2,27 ppm. Apesar da ligeira diferença nestes ritmos, apercebemo-nos que os valores absolutos são muito semelhantes.

Há uns poucos anos foi publicado um artigo científico sobre a evolução e previsão das alterações climáticas nos Açores. Nele afirma-se justamente «Os resultados das recentes previsões de vários modelos climáticos, indicando o aumento da temperatura do ar e a diminuição da quantidade de precipitação, são também claros em relação ao aumento de eventos extremos na região dos Açores».

Preocupemo-nos.

Pedro Amaral
Sobre o/a autor(a)

Pedro Amaral

Estudante do ensino secundário. Membro da Comissão Coordenadora Regional dos Açores do Bloco de Esquerda. Ativista estudantil
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